O oeste do Quênia amanheceu coberto por lama e desespero. Um deslizamento de terra de grandes proporções atingiu a região do Vale do Rift no último fim de semana, matando pelo menos 26 pessoas e deixando dezenas de desaparecidos. As equipes de resgate enfrentam dificuldades para chegar às áreas mais atingidas, onde a chuva ainda cai forte e o solo permanece instável.
Moradores relatam que o deslizamento começou durante a madrugada, quando parte de uma encosta desabou sobre um conjunto de casas em uma comunidade agrícola próxima à cidade de Elgeyo-Marakwet. Muitos dormiam quando foram surpreendidos pela lama e pelas rochas que avançaram com velocidade. “O barulho parecia um trovão sem fim. Quando saí, só vi lama cobrindo tudo”, contou um sobrevivente que ajudava nas buscas com as próprias mãos.
De acordo com a Cruz Vermelha do Quênia, mais de mil famílias perderam tudo. As estradas foram cortadas, pontes desabaram e várias comunidades ficaram isoladas. Helicópteros militares tentam levar alimentos e mantimentos para os desabrigados, enquanto hospitais próximos operam acima da capacidade. As equipes de socorro improvisam abrigos em escolas e igrejas.
As autoridades locais atribuem a tragédia ao acúmulo de chuvas que vem castigando o país desde o início de outubro. Meteorologistas explicam que o fenômeno El Niño, associado ao aquecimento das águas do Oceano Pacífico, tem intensificado os temporais em várias regiões do leste africano. Nos últimos meses, enchentes e deslizamentos também foram registrados em Uganda, Tanzânia e Etiópia, deixando centenas de mortos e milhares de desabrigados.
O governo queniano decretou estado de emergência em cinco condados e prometeu reforçar as ações de prevenção, mas especialistas alertam que a falta de planejamento urbano e o desmatamento de encostas continuam a aumentar o risco de novas tragédias. O próprio Vale do Rift, conhecido por suas paisagens exuberantes e importância geológica, tem sido palco de eventos climáticos extremos cada vez mais frequentes.
Enquanto os números oficiais ainda podem subir, o que se vê é um país tentando lidar com a força da natureza e com a fragilidade de suas defesas. Homens, mulheres e crianças escavam a lama com pás, enxadas e até panelas, na esperança de encontrar parentes desaparecidos. Entre lágrimas e orações, o silêncio que fica depois da enxurrada ecoa como um pedido de socorro ao mundo — um lembrete de que a crise climática global já cobra caro onde as vozes são menos ouvidas.
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