Foi na manhã desta quinta-feira, 14, em Porto Velho que as falas do colunista Cícero Moura ganharam as rodas de conversa e chegaram forte aos corredores do Palácio Rio Madeira. Ele contou que, em menos de um mês, recebeu cinco denúncias envolvendo membros do primeiro escalão do governo em relações extraconjugais dentro das próprias repartições. Não é assunto de vida íntima. É assunto de impacto direto no funcionamento do Estado.
A discussão não passa por moralismo. O ponto central é outro. Em cargos estratégicos, onde decisões mexem com orçamento, nomeações, licitações e prioridades que atingem toda a população, qualquer relação que atravesse a hierarquia cria um risco imediato. Isso vale tanto no CPA quanto nas secretarias que tocam saúde, cultura, agricultura e infraestrutura. Quando o gestor se envolve com subordinados, abre-se uma porta perigosa para favorecimentos, retaliações, trocas invisíveis e disputas internas que podem travar o serviço público.
Em órgãos de governo, onde a cobrança por produtividade é grande e o clima já costuma ser tenso, situações assim acabam alimentando fofocas, ciúmes, grupos isolados e um ambiente pesado. É como se a repartição deixasse de ser espaço de trabalho e virasse palco de disputas pessoais. O prejuízo aparece na rotina do servidor comum, que vê tarefas acumulando, ordens desencontradas e mudanças de humor ditando o ritmo do dia. A ponta final dessa cadeia é o cidadão, que chega num DER, num Idaron e encontra processos atrasados ou decisões tomadas sem critério claro.
As consequências podem ir além do desgaste interno. Há risco de exonerações por quebra de decoro, processos administrativos, denúncias por assédio e até disputas judiciais capazes de arrastar a imagem de um órgão inteiro. O vazamento de áudios e mensagens que circulam rápido na capital transforma episódios privados em turbulência institucional. E isso atinge o governo, não apenas quem se envolveu.
Rondônia enfrenta desafios grandes em todas as áreas. Da cheia do Rio Madeira que volta a mostrar sua força ao interior que sente a falta de médicos, passando pelas estradas esburacadas que ligam Cacoal a Ji-Paraná. Qualquer instabilidade dentro da cúpula administrativa interfere na entrega desses serviços. E quando o foco de quem deveria comandar se desloca para segredos e encontros escondidos, a máquina do Estado perde eficiência.
Cícero Moura lembrou na coluna que quem ocupa função de liderança nunca tem vida totalmente privada. E é assim mesmo. No Norte, onde as cidades são próximas e todo mundo se conhece, a conduta pública pesa ainda mais. Quem dirige precisa saber que o gabinete não é extensão da vida afetiva. A responsabilidade é maior. O impacto também.
O que se vê agora é um alerta. Não um julgamento. Um sinal claro de que a fronteira entre o pessoal e o institucional precisa ser respeitada todos os dias. O serviço público depende dessa linha firme. E o cidadão espera, no mínimo, que ela seja mantida sem brechas.
Baseado na coluna do jornalista e apresentador Cícero Moura do site colunaespacoaberto.com.br
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