Editorial: Garimpo ilegal desafia autoridades e ameaça a Amazônia
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Editorial: Garimpo ilegal desafia autoridades e ameaça a Amazônia

Operações federais intensificam combate, mas esquema criminoso se reinventa e continua impactando povos e florestas

O combate ao garimpo ilegal na Amazônia tem mostrado avanços recentes, sobretudo na Terra Indígena Yanomami, onde a presença de dragas, balsas e acampamentos ilegais caiu de forma significativa. De acordo com dados oficiais, entre março de 2024 e setembro de 2025 foram realizadas mais de sete mil operações na região. Como resultado, houve apreensão de ouro, mercúrio, cassiterita e a destruição de máquinas usadas para explorar ilegalmente os rios e a floresta. Ao todo, o prejuízo causado às organizações criminosas ultrapassa R$ 490 milhões, o que revela a pressão crescente do Estado sobre uma atividade que mistura violência, degradação ambiental e fraudes milionárias.

Entretanto, apesar dos números expressivos, a realidade ainda é desafiadora. Isso porque o garimpo não se sustenta apenas na beira do rio ou dentro da mata. Na prática, ele depende de uma rede bem articulada de financiadores, atravessadores e empresários, além de esquemas que fabricam licenças ambientais falsas para dar aparência legal à exploração. Nesse sentido, a recente Operação Ouro Negro da Polícia Federal ilustra bem o problema, ela desbaratou um grupo responsável por “lavar” ouro extraído da Terra Yanomami, movimentando centenas de milhões de reais em diferentes estados do país.

Além disso, os impactos vão muito além da economia ilegal. O uso do mercúrio, por exemplo, contamina igarapés e peixes, comprometendo a saúde de comunidades inteiras. Consequentemente, povos indígenas que dependem diretamente da floresta para sobreviver sofrem ainda mais. Da mesma forma, o desmatamento provocado pelo garimpo abre clareiras, altera o curso dos rios e deixa cicatrizes que levam décadas para se recuperar. Paralelamente, a presença de garimpeiros em territórios protegidos aumenta os conflitos, ameaça lideranças locais e fragiliza a segurança das populações indígenas.

Por outro lado, operações coordenadas pelo governo, como a Ágata Amazônia, que contam com o apoio das Forças Armadas, da Polícia Federal e de órgãos ambientais, têm mostrado resultados imediatos. Nessas ações, balsas são neutralizadas, equipamentos destruídos e toneladas de minério apreendidas. Contudo, o grande desafio é manter uma presença constante do Estado. Caso contrário, ocorre o chamado efeito “enxuga gelo”, o garimpo recua por alguns meses, mas logo retorna com a mesma intensidade.

Dessa forma, o cenário exige mais do que operações pontuais. É preciso, sobretudo, investir em uma política de longo prazo que envolva fiscalização permanente, investigação financeira e, acima de tudo, fortalecimento das comunidades locais como guardiãs da floresta. Somente assim será possível frear o avanço da exploração ilegal e proteger o território amazônico de forma duradoura.

No fim das contas, o combate ao garimpo ilegal é também uma luta pela vida. A cada operação, o que se busca não é apenas apreender máquinas ou barrar o ouro que sai da Amazônia, mas garantir que os povos indígenas continuem existindo, que os rios sigam correndo limpos e que a floresta mantenha seu papel vital para o clima e para o futuro do Brasil. Em outras palavras, o que está em jogo não é só a riqueza do subsolo, mas a sobrevivência de toda uma região que resiste entre pressões externas e a esperança de ver sua terra respeitada.

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