O Rei e o Cordeiro

O Rei e o Cordeiro

Durante sua caminhada, encontrou um mago que vivia nas florestas do Cone Sul e conhecia bem a região

Certa vez, um lobo da Região Norte do Brasil caminhava pela floresta em busca de caça. Ele desejava não apenas satisfazer suas necessidades alimentares, mas também exercer seu poder, demonstrando que poderia dominar com sua força.

Durante sua caminhada, encontrou um mago que vivia nas florestas do Cone Sul e conhecia bem a região. O mago ofereceu-lhe a chance, não de se alimentar, mas de obter um grande poder que duraria quatro anos e poderia ser renovado apenas uma vez. O lobo ficou entusiasmado e prometeu que jamais esqueceria do mago.

Ao ver a confiança do lobo, o mago iniciou o ritual, um procedimento complexo que envolvia os macacos da floresta. Naquele momento, os macacos estavam em alta, pois todos os animais da floresta ansiavam por mudanças. Dominando a floresta com sua astúcia e manipulação, os macacos exerciam um misto de crença e domínio estratégico. No meio do ritual, entre raios e trovões, o lobo se transformou em um Cordeiro Rei.

O mago ficou surpreso com a transformação inesperada; o poderoso lobo havia se transfigurado em um Cordeiro Rei sem qualquer explicação plausível.

O Cordeiro Rei passou a dominar a Floresta do Norte e, após três anos e meio de reinado, já não contava mais com o mago, a quem havia abandonado. Ele fortaleceu sua posição providenciando alimentos básicos para os habitantes da floresta.

A Floresta do Norte abrigava 52 comunidades, cada uma com seus líderes. Nas margens do Rio Madeira, situava-se a Floresta Principal, onde uma árvore imensa era o lar de 24 grandes líderes que, devido às suas conquistas, estabeleciam as leis que governavam as 52 comunidades e exerciam forte controle sobre o Cordeiro Rei.

Próximo ao fim dos seus quatro anos de poder, o Cordeiro Rei, agora sem o auxílio do mago, elaborou uma estratégia para permanecer no poder. Distribuiu alimentos de alto valor agregado às comunidades, conseguindo, assim, renovar sua magia e manter-se como Cordeiro Rei.

Tudo parecia perfeito até que alguns animais começaram a apontar falhas nas decisões do Cordeiro Rei e na qualidade dos alimentos distribuídos. Ele e seus seguidores foram denunciados, inclusive por seus próprios aliados, que se recusavam a obedecer seus comandos. Segundo conta a lenda, aqueles que resistiram tiveram seus poderes retirados.

A corte das florestas foi acionada, dando início a uma reviravolta imensa. O Cordeiro Rei começou a perder aliados e a corte, analisando as evidências, considerou retirar seus poderes. O cenário era incerto, pois a investigação apontava para um grande risco de queda, tanto do Cordeiro Rei quanto do mago que lhe havia concedido o poder inicial.

Diante dessa incerteza, na imensa árvore onde habitavam 24 grandes líderes da floresta, começaram a surgir alinhamentos e conchavos entre lobos e cordeiros para definir um nome que pudesse concorrer ao reinado do Cordeiro Rei, caso este perdesse seus poderes. O principal foco era a definição do nome e o apoio da maioria dos 24 grandes líderes.

Nas regiões florestais preservadas, às margens dos rios Mamoré e Guaporé, havia também um líder de comunidade com grande força, conhecido por suas atividades e pelo rápido crescimento na distribuição de leite e carne. Ele detinha vasto conhecimento e capacidade, e as florestas do seu entorno abrigavam cerca de duzentos mil animais que poderiam ajudar em uma eventual disputa pelo reinado.

A Floresta Principal, além de imensa, possuía características distintas: terras firmes, margens do Rio Madeira e distritos interligados por via fluvial. Seu líder, que já havia passado pela corte, agora havia desenvolvido caminhos e estradas seguras para o trânsito dos animais, além de proporcionar um grande volume de luz para a floresta. Ele estava pronto para qualquer decisão da corte e, considerando os habitantes da região, o contingente chegava a aproximadamente quinhentos mil animais.

Na região central da floresta, a piscicultura era um destaque. Com uma população estimada em cerca de 300 mil animais e líderes variados e robustos, essa região precisava se unir para fortalecer um único nome na disputa pelo reinado do Cordeiro Rei. Um líder experiente, que já havia passado por diversos reinados, poderia ser um excelente orientador na escolha certa, devido à sua vasta experiência e posição de prestígio.

Na Floresta banhada pelo Rio Ji-Paraná, também conhecido como Rio Machado, havia uma comunidade de quase quatrocentos mil animais. Um evento anual nesta região reunia representantes de todas as comunidades. Nela já haviam surgido diversos Cordeiros Reis e havia representação em todos os níveis florestais, o que abria espaço para o surgimento de um novo nome.

Nas comunidades do Cone Sul da Floresta do Norte, onde o clima é mais frio e os animais têm um senso crítico apurado, ponderavam sobre a possibilidade de mudança. A maior probabilidade seria a formação de uma aliança com um líder que atendesse aos seus anseios e necessidades.

Por mais que um Cordeiro Rei faça, os animais da floresta sempre estarão atentos às suas falhas, pois a busca pelo poder é uma procura infinita. Segundo Aristóteles, “O homem é por natureza um animal político.” Todos sonham com um governo voltado para o bem comum, e não para a perpetuação do próprio poder.

A atenção deve ser dada aos lobos, aos cordeiros e aos lobos em pele de cordeiro. Observe suas ações e interesses, pois o acesso à educação é crucial para o desenvolvimento de uma capacidade crítica e, consequentemente, para a transformação do mundo de forma sustentável e responsável. É necessário também estar atento às mudanças climáticas, às vertentes poluidoras, à correta distribuição de renda e ao trabalho, eliminando a utopia da igualdade e reconhecendo nossa semelhança.

 

Waldemar Albuquerque

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