PORTO VELHO (RO) – A proposta em estudo no governo de Rondônia para repassar a atividade‑fim dos hospitais públicos à iniciativa privada esbarrou numa forte crítica do presidente do Sindicato dos Médicos (SIMERO), Dr. Luiz Eduardo Maiorquim.
Segundo o jornalista Robson Oliveira, colunista do Rondônia Dinâmica, Maiorquim afirma que o modelo pretende terceirizar equipes médicas, enfermagem, fisioterapia e nutrição, além de serviços de apoio, num contrato que pode superar R$ 500 milhões por ano. Ele também reclama da “total ausência de diálogo” com sindicatos e diretores clínicos, responsáveis pela linha de frente nos hospitais.
“É entregar o coração da saúde a quem não vivencia a rotina das unidades. Mudanças dessa magnitude exigem transparência técnica e participação de quem está no chão do hospital”, disse o dirigente.
O retrovisor de outros estados
Rio de Janeiro — ‘puxadinho contratual’ que custa R$ 83,8 milhões/mês
No Rio, a lei que extinguiria as Organizações Sociais (OSs) em 31 de julho de 2024 foi prorrogada pela Assembleia Legislativa até 2026. O governo justificou que oito hospitais ainda dependem das OSs, cujo custo soma R$ 83,8 milhões mensais – valor hoje bancado sem um plano definitivo para internalizar a gestão, o que especialistas chamam de “puxadinho” permanente.
Goiás — Operação Panaceia e desvio de R$ 900 milhões
Em fevereiro de 2025, a Controladoria‑Geral da União e a Polícia Federal deflagraram a Operação Panaceia, que apura desvios superiores a R$ 900 milhões em dois hospitais estaduais administrados por uma OS entre 2012 e 2018. A Justiça bloqueou R$ 28 milhões em bens e apontou contratos genéricos e impossível fiscalização como combustível para o rombo.
Serviços e Informações do Brasil
Minas Gerais — Justiça barra terceirização e manda reabrir hospital
Em Belo Horizonte, o fechamento parcial do Hospital Maria Amélia Lins para implantação de um modelo de Parceria Público‑Privada (PL 2127/2024) gerou protestos. Em abril de 2025, a Justiça ordenou a reabertura de 41 leitos e do bloco cirúrgico e suspendeu o contrato por falta de estudos técnicos e risco de “grave lesão ao erário”, segundo o Tribunal de Contas mineiro.
Lições imediatas para Rondônia
Planejamento orçamentário realista – Sem metas claras, prorrogações milionárias viram regra, como no Rio.
Controle e auditoria independentes – A falta de fiscalização permitiu o desvio bilionário revelado em Goiás.
Estudos técnicos transparentes – Em Minas, a Justiça suspendeu a PPP porque o edital não apresentava dados de custo‑benefício.
Participação dos profissionais – Ignorar sindicatos e diretores clínicos compromete a adesão e pode paralisar serviços.
Maiorquim defende que qualquer alternativa de gestão “fortaleça, e não fragilize” o SUS rondoniense. Ele cobrará a divulgação integral do estudo de viabilidade e audiência pública antes de o governo assinar qualquer contrato.
A entrevista completa com o presidente do SIMERO vai ao ar nesta terça‑feira (6) no podcast Resenha Política. Até lá, fica o alerta: quando a saúde pública vira negócio, a conta – financeira e social – costuma chegar rápido ao leito do paciente.
Participe da nossa comunidade!
Clique aqui para entrar no grupo do WhatsApp