A política rondoniense vive um momento de inflexão histórica que expõe as fragilidades de um governo em crise e o surgimento de uma nova hegemonia no estado de Rondônia. O evento realizado em Brasília na semana passada, que oficializou a federação PP/União para 2026, não foi apenas um lançamento partidário foi a certidão de óbito política do projeto de continuidade do governador Marcos Rocha.
Em menos de dois anos, assistimos a uma completa inversão da correlação de forças no Palácio Rio Madeira. O que começou como uma parceria entre Marcos Rocha e os irmãos Gonçalves transformou-se numa queda de braço que o governador já perdeu antes mesmo de perceber que estava jogando.
A declaração de Rueda, presidente nacional do União Brasil, não deixa margem para interpretações: “o vice-governador (Sérgio Gonçalves), se Deus quiser, será nosso candidato ao governo em 2026”. Não há espaço para Rocha nesta equação. O coronel da Polícia Militar, que um dia comandou tropas, hoje se vê comandado por uma articulação que ele próprio ajudou a construir, uma vez que os queridinhos ao senado são Mariana Carvalho e Silvia Cristina nessa composição.
O governador Marcos Rocha cometeu o erro clássico de subestimar seus aliados. Ao nomear Sérgio Gonçalves para a Sedec uma das secretarias mais estratégicas do governo, entregou não apenas um cargo, mas uma plataforma de projeção política e recursos que seriam fundamentais para a construção da candidatura de 2026.
A exoneração tardia de Sérgio da Sedec, em julho passado, foi um gesto desesperado de quem finalmente compreendeu a armadilha, mas já era tarde demais. O vice-governador havia consolidado sua imagem como gestor competente, acumulando resultados expressivos: mais de R$ 300 milhões em projetos executados, PIB estadual crescendo 4,7%, programa de crédito ultrapassando R$ 230 milhões. Números que falam por si.
A tentativa de Rocha de governar remotamente durante sua missão em Israel revelou não apenas uma interpretação questionável da Constituição, mas principalmente o nível de desconfiança em relação ao próprio vice. A aprovação açodada da PEC que autorizou o trabalho remoto foi um tiro no pé: expôs publicamente a crise interna e deu a Sérgio Gonçalves a narrativa perfeita de defensor da institucionalidade.
Quando um governador precisa mudar a Constituição para não deixar o vice assumir temporariamente, algo está fundamentalmente errado na relação de confiança que deveria existir entre os ocupantes dos dois principais cargos do Executivo estadual.
O evento de Brasília cristalizou uma nova realidade: os irmãos Gonçalves não são mais coadjuvantes no cenário político rondoniense, são os protagonistas. Com Sérgio confirmado para o governo e Silvia Cristina e Mariana Carvalho para o Senado, eles construíram uma chapa competitiva com aval da cúpula nacional partidária.
Marcos Rocha, por sua vez, encontra-se numa encruzilhada. Suas opções são limitadas: aceitar um papel secundário na sucessão, migrar para outro partido (com todos os riscos inerentes) ou tentar uma improvável reconciliação que já não depende mais apenas de sua vontade.
O que está em jogo transcende as ambições pessoais dos envolvidos. Rondônia precisa de estabilidade política para continuar seu desenvolvimento econômico. O estado que ostenta o segundo menor índice de desemprego do país não pode se dar ao luxo de uma guerra fratricida que comprometa a governabilidade.
A maturidade política exige que os atores envolvidos coloquem os interesses do estado acima das vaidades pessoais. Isso significa, para Marcos Rocha, reconhecer a nova correlação de forças e buscar uma transição harmoniosa. Para os irmãos Gonçalves, significa exercer a liderança com responsabilidade, sem revanchismo.
A política é a arte do possível, e o possível em Rondônia mudou drasticamente. O governador Marcos Rocha tem diante de si uma escolha que definirá não apenas seu futuro político, mas também seu legado: pode sair da história como o líder que soube reconhecer os limites do poder e contribuiu para uma transição democrática, ou como aquele que se agarrou ao cargo até o fim, prejudicando a estabilidade institucional.
Os dados estão lançados. O xeque-mate está dado. Resta saber se o coronel terá a sabedoria que faltou ao político.
Da Redação
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