Em meio ao cenário político atual, declarações de admiração ao regime chinês têm ganhado destaque entre algumas autoridades brasileiras. Recentemente, um ministro afirmou: “Nós todos hoje somos admiradores do regime chinês, do Xi Jinping. O importante é que a cor do gato não importa. O importante é que ele casse o rato.” A frase, originalmente dita por Deng Xiaoping — líder responsável por modernizar a economia chinesa mantendo o autoritarismo político —, é usada aqui como símbolo de pragmatismo: o que importa é o resultado, não o método.
No entanto, enquanto esse discurso ganha força, fatos concretos vindos da China mostram o alto custo humano de uma administração voltada exclusivamente para metas e eficiência. Um exemplo recente gerou indignação internacional: um vídeo gravado em Shangzhi, no norte da China, mostra oito funcionários de um banco sendo espancados durante um “treinamento”. As imagens são claras e perturbadoras. Quatro homens e quatro mulheres estão perfilados, sendo questionados sobre seu desempenho abaixo do esperado. Um a um, são agredidos com uma vara de madeira, diante de colegas de trabalho que assistem à cena em silêncio. Segundo relatos, além das agressões físicas, o treinamento também previa raspar a cabeça dos funcionários que não atingissem as metas estabelecidas.
O banco responsável afirmou que o treinamento foi conduzido por uma empresa terceirizada contratada para melhorar a performance dos funcionários. Mas o episódio escancara uma realidade preocupante: até onde vai a busca por eficiência? Quando punições físicas e humilhações públicas são usadas como métodos de gestão, fica evidente que os limites éticos estão sendo ultrapassados.
Diante disso, surge uma reflexão urgente. É legítimo estudar modelos de sucesso econômico como o chinês, e entender os caminhos que levaram a China a se tornar uma potência. No entanto, é preciso distinguir crescimento econômico de autoritarismo, e disciplina de desumanidade. Quando representantes públicos exaltam regimes que permitem práticas abusivas em nome da produtividade, estamos diante de uma distorção perigosa de valores.
A eficiência não pode ser conquistada à custa da dignidade humana. As imagens vindas de Shangzhi não são exceções isoladas, mas sinais de um sistema que precisa ser analisado com responsabilidade e senso crítico. Mais do que nunca, o Brasil precisa discutir que tipo de modelo deseja seguir — e a que preço.
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