Há situações em que a verdade bate à porta com tanta força que a indignação deixa de ser escolha e se torna dever. O flagrante registrado na manhã do dia 24 de julho, em Porto Velho, é um desses episódios que não dá para ignorar. Máquinas e caminhões do DER de Rondônia, mantidos com o dinheiro de todos nós, foram vistos trabalhando — pasmem — no estacionamento de uma igreja.
Isso mesmo. Um espaço privado, religioso, com portões controlados por funcionários do próprio templo. Um cenário que, à primeira vista, parecia uma ação corriqueira. Mas, olhando mais de perto, surgem as perguntas incômodas: onde estão os documentos? Cadê o convênio, a licitação, a autorização legal? A resposta, até agora, é o silêncio — e isso fala muito.
É nesse ponto que ecoam as palavras do Mestre: “É mister que venham os escândalos, mas ai daqueles por quem vierem” (Mateus 18:7). E não é para usar a Bíblia fora de contexto, mas para lembrar que fé verdadeira não combina com uso indevido do bem público. Mesmo que, por erro ou desinformação, alguém tenha sido conduzido a isso sem perceber o tamanho da encrenca.
Sim, é possível que o pastor ou os líderes religiosos tenham sido mal orientados, convencidos por argumentos técnicos ou promessas de ajuda que, à primeira vista, pareciam legítimas. E isso precisa ser considerado. A boa fé, quando existe, merece respeito. Mas a responsabilidade, mesmo assim, precisa ser apurada com seriedade.
A Constituição é clara. A Lei de Improbidade mais ainda. O patrimônio público existe para servir ao coletivo, não para atender interesses particulares — ainda que esses estejam sob a bandeira da religião. Quando isso acontece, ferem-se princípios fundamentais: impessoalidade, moralidade, legalidade. E o povo, mais uma vez, sente o peso da injustiça.
Se o Ministério Público decidir investigar, como seria natural, todos os envolvidos deverão ser ouvidos. Inclusive os pastores responsáveis, não como culpados antecipados, mas como peças importantes para esclarecer os fatos. Que tudo se apure com equilíbrio, responsabilidade e verdade.
Enquanto isso, do outro lado da cidade, ruas continuam intransitáveis, crianças enfrentam a lama para ir à escola e famílias esperam há anos por investimentos básicos. É nesse contraste que a indignação se sustenta.
Rondônia já viu esse filme antes. Mas agora, há registros. Há flagrantes. Há olhos atentos. E é mister que os escândalos apareçam — não para destruir, mas para expor, corrigir e impedir que se repitam.
Mas ai daqueles por quem vierem. Porque a justiça pode até demorar… mas ela vem. E quando vem, traz consigo a luz. E a fé, quando é verdadeira, nunca teme a luz da verdade.
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