Era 2016, um ano que trazia consigo promessas de mudanças e grandes perspectivas. A atmosfera era carregada de expectativa, e a ansiedade pulsava no peito, acelerando os batimentos cardíacos. Era um momento de novidades, um ciclo que se iniciava sem que eu soubesse exatamente onde me levaria. A cada dia, desafios surgiam, e aquilo que, no começo, parecia ultra, mega, power difícil, foi, aos poucos, tornando-se parte da minha rotina. O desconhecido virou o habitual, o complexo tornou-se simples, e o que antes exigia um esforço tremendo passou a ser encarado com naturalidade.
Nesse percurso, vieram os amigos, aqueles que somavam, que compartilhavam experiências e traziam leveza ao dia a dia. Mas, na mesma medida, vieram também os inimigos, alguns declarados, outros disfarçados, à espreita, esperando a hora certa para dar o bote. Foi em meio a essa dinâmica que uma situação peculiar aconteceu, algo que, sem que eu percebesse de imediato, mudaria completamente o rumo da minha jornada.
Em um dia aparentemente comum, fui chamado pelo meu chefe para entregar um relatório sobre um determinado colaborador. Ele queria saber como o rapaz estava se saindo no trabalho, quais eram suas contribuições e seu desempenho dentro da equipe. Sem rodeios, fui sincero: disse que ele não servia para a função, pois passava boa parte do dia sentado, conversando e sem demonstrar produtividade. Não houve muita reação por parte do chefe naquele momento, apenas um aceno de cabeça indicando que ele havia entendido a informação.
Mas, minutos depois, ao sair da sala, ele cruzou com o funcionário e, sem hesitar, lançou um olhar direto e afirmou:
— Você precisa melhorar. Acabei de receber várias reclamações suas.
O rapaz, pego de surpresa, arregalou os olhos e, sem entender o que estava acontecendo, perguntou, aflito:
— Mas o que eu fiz?
A resposta veio curta, porém afiada:
— O problema não é o que você fez, mas o que você deixou de fazer.
Aquele instante transformou tudo. O ambiente, que até então parecia estável, se tornou carregado, tenso. Eu sabia que aquelas palavras, ditas pelo chefe, não haviam sido ao acaso. Ele tinha criado uma situação que poderia muito bem ser um teste para mim, para ele ou para ambos. Era um jogo psicológico que exigia mais do que simples reações impulsivas. Mas, antes que eu pudesse refletir sobre a estratégia por trás daquilo, o impacto da conversa já havia se manifestado.
O colaborador, agora com um semblante fechado e olhar pesado, se dirigiu até mim, sentou-se bem à minha frente e, sem rodeios, declarou:
— A partir de hoje, sou seu inimigo. E vou te arrancar daqui.
Foram palavras que carregavam rancor, mágoa e um tom de ameaça. Eu poderia ter argumentado, explicado que a situação não havia sido exatamente como ele imaginava, que eu apenas havia respondido a uma pergunta do chefe. Mas percebi que qualquer justificativa seria em vão. Naquele instante, algo já havia sido rompido.
O tempo passou, e ele cumpriu sua promessa.
As engrenagens invisíveis do ambiente corporativo se moveram de uma forma que, pouco a pouco, minha posição foi se tornando mais vulnerável. Pequenos conflitos começaram a surgir, relações foram sendo minadas, situações foram criadas para me desestabilizar. O que antes parecia um dia a dia comum virou uma batalha silenciosa, onde cada movimento precisava ser calculado.
Olhando para trás, percebo que o erro não foi apenas a sinceridade ao responder ao chefe, mas sim subestimar o impacto que certas verdades podem ter em um ambiente competitivo. Nem todo mundo está preparado para ouvir o que não quer. Nem todo mundo entende que, no fim, o que realmente importa é a performance, a entrega e o comprometimento.
A grande lição que ficou dessa história é que, no mundo profissional, nem sempre podemos evitar inimigos. Mas, se eles surgirem, devemos enfrentá-los com inteligência, estratégia e resiliência. Porque, no final, não é sobre não ter adversários, mas sim sobre saber como jogar o jogo.
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