Irã aprova fechamento do Estreito de Ormuz e acende alerta global sobre fornecimento de petróleo

Irã aprova fechamento do Estreito de Ormuz e acende alerta global sobre fornecimento de petróleo

Decisão do Parlamento iraniano de fechar rota estratégica intensifica crise no Oriente Médio e eleva temores de choque nos preços do petróleo

Neste domingo, 22 de junho de 2025, o Parlamento iraniano aprovou o fechamento do Estreito de Ormuz, uma das rotas marítimas mais estratégicas do mundo para o transporte de petróleo. A decisão foi tomada como resposta aos ataques aéreos dos Estados Unidos contra três instalações nucleares iranianas – Fordow, Natanz e Isfahan – e ainda depende da aprovação do Conselho Supremo de Segurança Nacional e do líder supremo, aiatolá Ali Khamenei. A medida intensifica a crise no Oriente Médio e ameaça diretamente o fornecimento global de energia. Os ataques foram ordenados pelo presidente norte-americano Donald Trump, que descreveu a operação como uma ofensiva de “alta precisão” destinada a neutralizar o programa nuclear iraniano. Ele afirmou que as instalações foram “completamente obliteradas” e advertiu que novas ações poderão ocorrer caso o Irã não aceite iniciar negociações.

O Estreito de Ormuz, localizado entre o Irã e Omã, é considerado uma artéria vital do comércio mundial de petróleo. Segundo dados da plataforma Vortexa, cerca de 20% de todo o petróleo consumido no mundo – entre 17,8 e 20,8 milhões de barris por dia entre 2022 e maio de 2025 – passam por essa rota. Países como Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Kuwait, Iraque e o próprio Irã, todos membros da OPEP, dependem fortemente do estreito para exportar petróleo, especialmente para o mercado asiático. Além disso, o Catar também utiliza essa passagem para o transporte de gás natural liquefeito (GNL), essencial para abastecimento na Ásia e Europa.

A simples ameaça de bloqueio já teve impactos imediatos nos mercados globais. Desde o início do conflito direto entre Israel e Irã, em 13 de junho, os preços do petróleo dispararam. O barril do tipo Brent, referência internacional, subiu 13,5%, passando de US$ 69,36 para US$ 78,74 entre os dias 12 e 19 de junho. O barril do WTI, referência nos EUA, aumentou 10,9% no mesmo período, saltando de US$ 66,64 para US$ 73,88. Analistas do JPMorgan alertam que, caso o estreito seja efetivamente fechado, os preços podem alcançar entre US$ 120 e US$ 130 por barril, patamar semelhante ao observado durante a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022. Usuários nas redes sociais, como @Samuelsworld, especulam que o preço pode chegar a US$ 150, com reflexos severos na inflação global, nos custos de combustível e no desempenho econômico dos Estados Unidos.

Os bombardeios dos EUA foram realizados com o uso de bombardeiros B-2 e bombas “bunker-buster” de 13 toneladas. Em meio à ofensiva, Trump afirmou que o objetivo era eliminar as capacidades nucleares iranianas e advertiu que o Irã enfrentaria consequências ainda mais duras se não aceitasse dialogar. Enquanto isso, o governo iraniano nega qualquer intenção militar em seu programa nuclear, embora a Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) tenha confirmado que o país acumula urânio enriquecido a 60%, próximo do nível necessário para a fabricação de armas nucleares.

A comunidade internacional reagiu com preocupação. Omã condenou os bombardeios americanos e a Arábia Saudita pediu contenção e soluções diplomáticas. A AIEA alertou sobre riscos de contaminação radioativa e destacou a importância de preservar a segurança nuclear. O Estreito de Ormuz, com apenas 33 km em seu ponto mais estreito e canais de navegação de apenas 3 km em cada direção, é extremamente vulnerável a bloqueios, ataques com drones ou instalação de minas marítimas. Os Estados Unidos, por meio da 5ª Frota da Marinha baseada no Bahrein, são responsáveis por garantir a segurança da navegação na região. Qualquer interrupção no tráfego pode afetar não apenas o fornecimento de petróleo, mas também o transporte de GNL para países que dependem dessa fonte de energia.

Embora o Irã também utilize o estreito para exportar seu petróleo, analistas consideram que a ameaça de bloqueio é uma medida de alto risco, usada principalmente como instrumento de pressão geopolítica. Arábia Saudita e Emirados Árabes vêm investindo em rotas alternativas, como oleodutos com capacidade ociosa de até 2,6 milhões de barris por dia, segundo a Administração de Informação de Energia dos EUA. No entanto, essa capacidade ainda é insuficiente para compensar um bloqueio total.

Essa não é a primeira vez que o Irã ameaça fechar o Estreito de Ormuz. Em 2019, após os Estados Unidos abandonarem o acordo nuclear (JCPOA), o país já havia feito ameaças semelhantes. Naquela ocasião, ataques a petroleiros atribuídos ao Irã aumentaram as tensões, mas o estreito permaneceu aberto. De acordo com especialistas ouvidos pela Reuters, o bloqueio completo é improvável justamente pelos impactos econômicos que causaria ao próprio Irã. No entanto, a instabilidade gerada pelas ameaças já é suficiente para provocar volatilidade nos mercados.

A entrada direta dos EUA no conflito amplia significativamente o risco de uma guerra regional. Analistas, como Fernando Brancoli, da UFRJ, avaliam que os ataques aéreos americanos representam uma clara escalada, marcando a transição de um apoio indireto a Israel para uma participação ativa no conflito. O Irã, por sua vez, pode responder atacando bases militares americanas na região, como as instaladas no Bahrein, Iraque ou Kuwait, ou mesmo por meio de aliados como os Houthis, no Iêmen, e o Hezbollah, no Líbano.

Até o momento, o líder supremo do Irã, aiatolá Khamenei, não se pronunciou oficialmente sobre os ataques ou sobre a decisão do Parlamento. No entanto, em mensagens anteriores, ele alertou que o envolvimento direto dos EUA traria “danos irreparáveis”. Trump, por outro lado, minimizou essas declarações e afirmou que o Irã enfrenta muitos problemas e deseja negociar.

A comunidade internacional segue atenta aos desdobramentos. O secretário-geral da ONU alertou para as “consequências catastróficas” de uma escalada maior, enquanto a AIEA reforçou o apelo por uma solução diplomática. Apesar do clima de tensão, o Irã demonstrou disposição para dialogar, e uma reunião em Genebra já está agendada com representantes do Reino Unido, França, Alemanha e União Europeia.

No cenário global, o temor principal é o impacto econômico de um bloqueio prolongado. Países asiáticos como China e Índia, altamente dependentes do petróleo do Golfo, podem enfrentar aumentos expressivos nos custos de energia. Na Europa, a possível interrupção do fornecimento de gás natural liquefeito do Catar pode atrapalhar ainda mais os esforços para reduzir a dependência do gás russo.

O conflito, agora com a participação direta dos Estados Unidos, coloca o Oriente Médio em um momento de tensão crítica. A decisão final sobre o fechamento do Estreito de Ormuz está nas mãos de Khamenei e do Conselho Supremo de Segurança Nacional. Independentemente do desfecho, as consequências já são sentidas globalmente – tanto nos mercados quanto na política internacional.

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