A liderança da Liga dos Camponeses Pobres (LCP), Ilma Rodrigues dos Santos, tesoureira e figura proeminente do movimento, de 45 anos, e seu marido Edson Lima Rodrigues, 43, foram brutalmente assassinados com tiros na cabeça na quinta-feira (17). Os corpos do casal foram encontrados ao lado de sua caminhonete incendiada, um cenário que aponta para a violência intrínseca aos conflitos agrários na região.
O crime ocorreu na localidade conhecida como 8° Linha do Ribeirão, no Distrito de Abunã, a 200 quilômetros de Porto Velho (RO). Ilma e Edson residiam no acampamento Thiago dos Santos, em uma área da fazenda Nova Brasil, conhecida por sua alta tensão e históricos de confrontos, inclusive com forças policiais, desde 2018.
O duplo homicídio, atualmente sob investigação da Polícia Civil, levanta a suspeita de ser um ato de retaliação contra a LCP. Os assassinatos aconteceram apenas um dia após fiscais e policiais militares terem sido alvo de disparos dentro do Parque Ambiental Estadual Guajará-Mirim, um incidente que o comandante da Polícia Militar Ambiental de Porto Velho, major Adenilson Silva Chagas, atribuiu a integrantes da LCP. Ele destacou a mudança no perfil dos invasores, que agora incluem indivíduos ligados à Liga dos Camponeses Pobres, com um perfil mais combativo e propenso ao enfrentamento.
Apesar das declarações do major, a Assessoria de Imprensa do comando da Polícia Militar (PM) ressaltou que não há confirmação de ligação entre o atentado aos fiscais e a morte do casal, deixando a elucidação do caso a cargo da Polícia Civil. Contudo, Maria Petronila, coordenadora da Comissão Pastoral da Terra (CPT) em Rondônia, expressou sua convicção de que há uma tentativa de criminalização dos movimentos rurais, sugerindo que os ataques podem estar mais relacionados ao crime organizado e ao roubo de madeira, que se aproveitam da omissão governamental.
Petronila alertou para a crescente impunidade e a escalada da violência no campo, mencionando que no ano passado foram registrados 13 assassinatos de lideranças, com 7 deles sendo execuções diretas ou massacres policiais. Ela criticou a falta de investigações sérias e a omissão dos governos federal e estadual, que, segundo ela, incentivam a violência rural e a fragilização das instituições de fiscalização ambiental.
A LCP, fundada em 1999 em Rondônia após o Massacre de Corumbiara, defende a reforma agrária e a “morte do latifúndio”, mantendo cerca de 30 acampamentos no estado, denominados “áreas revolucionárias”. A região Norte, onde Rondônia se insere, tem se mostrado uma das mais violentas do país em conflitos agrários, com um aumento significativo de mortes e desmatamento, impulsionados pela fragilização das instituições e pela política de incentivo à grilagem de terras.
O clima de tensão é acentuado desde 2020, com o aumento de assassinatos e a criminalização de lideranças. A advogada Lenir Correia Coelho, que faz a defesa jurídica da LCP, relatou ameaças e a invasão de sua casa por policiais, evidenciando a perseguição enfrentada por aqueles que lutam pela terra. A morte de Ilma Rodrigues dos Santos, uma líder tão central para a LCP, é um trágico reflexo da complexidade e da urgência de se encontrar caminhos para a resolução dos conflitos agrários no Brasil, garantindo justiça social, segurança e respeito aos direitos humanos no campo.
Com informações do Instituto Humanitas Unisinos
Participe da nossa comunidade!
Clique aqui para entrar no grupo do WhatsApp