15/07/2025 - 14:07 Por: Assessoria de Comunicação Foto: Wagner Guimarães
15/07/2025 - 14:07 Por: Assessoria de Comunicação Foto: Wagner Guimarães

Gleice Jane usa a tribuna e retoma debate contra a violência aos profissioanais de saúde

Dados do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul (Coren-MS) mostram que a situação é alarmante: 70% dos enfermeiros em todo o país já sofreram algum tipo de agressão

Mato Grosso do Sul – Durante discurso na tribuna da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) nesta terça-feira (15), a deputada estadual Gleice Jane (PT) voltou a cobrar melhorias nas condições de trabalho dos profissionais de saúde no estado. A parlamentar destacou a urgência de uma resposta concreta do poder público frente a denúncias que envolvem jornadas exaustivas, falta de insumos e casos recorrentes de violência.

Dados do Conselho Regional de Enfermagem de Mato Grosso do Sul (Coren-MS) mostram que a situação é alarmante: 70% dos enfermeiros em todo o país já sofreram algum tipo de agressão. Entre as vítimas, 83% são mulheres, e 86% delas não registram boletim de ocorrência, o que agrava a subnotificação desses episódios.

Gleice Jane chamou atenção para a sobrecarga enfrentada pelos profissionais, especialmente no serviço público: “As violências são fruto de um sistema falho, mas quem paga o preço é quem está na linha de frente. Esses trabalhadores atuam sob intensa pressão, acumulam jornadas e abrem mão da vida pessoal”, afirmou.

As dificuldades enfrentadas pela categoria também foram debatidas em audiência pública realizada no dia 25 de junho, na Casa de Leis. Na ocasião, uma enfermeira leu uma carta com relatos emocionantes sobre sua experiência. A deputada compartilhou o conteúdo com os demais parlamentares, reforçando a gravidade da situação.

“Ela contou que sofreu dois episódios de violência física, que a marcaram profundamente. Quantas vezes esses profissionais, exaustos e sobrecarregados, não deixam de registrar ocorrência para não prejudicar o plantão? Registrar é dar visibilidade ao problema, é responsabilizar o agressor, criar dados para embasar políticas públicas e proteger quem pode passar pela mesma situação no futuro”, enfatizou Gleice, segurando a carta.

Íntegra do Discurso

Discurso – Audiência Pública – Assembleia Legislativa de MS
Excelentíssimos(as) deputados(as),
Demais autoridades presentes,
Colegas da enfermagem,
Senhoras e senhores,
Meu nome é Samara Graeff, sou enfermeira, tenho 15 anos de formação, dos
quais 9 dedicados a rede municipal de saúde de Campo Grande. Atualmente estou à
frente da Divisão de Enfermagem da SESAU, a maior secretária municipal de saúde
do estado, e represento aqui cerca de 1.500 profissionais — entre enfermeiros,
técnicos e auxiliares de enfermagem — que enfrentam diariamente a missão de cuidar
da vida, mesmo quando a própria integridade está em risco.
Hoje, não venho apenas representar uma categoria.
Venho dar voz à dor que muitos ainda não conseguiram verbalizar.
Venho falar de violência. Mas também de resistência, dignidade e urgência.
E falo com conhecimento de causa.
Já sofri 2 episódios de violência física no exercício do meu trabalho e me
marcaram imensamente. Violência verbal então? Nem se fala.
Já fui à delegacia diversas vezes registrar boletim de ocorrência — por mim e ao
lado dos meus colegas — porque ninguém deve enfrentar isso sozinho, apesar de ser
assim na maioria das vezes. Sozinhos!
Na experiência da SESAU, temos observado que a maioria dos episódios de
violência acontece nas unidades de urgência.
E nós compreendemos esse ambiente: a dor das pessoas, o medo, o
desespero, a insegurança diante de um diagnóstico grave… o tempo de espera.
Mas entender o sofrimento do outro não pode significar aceitar a violência como
consequência.
A enfermagem é a linha de frente — e também a linha de impacto.
Apanhamos física e verbalmente por inúmeros motivos, porque a espera está
longa, porque a estrutura não dá conta, pela falta de insumos e medicamentos, porque
a pessoa não recebeu o que esperava.
Somos o rosto do sistema, e é em nós que a insatisfação recai — e mesmo
assim seguimos entregando cuidado. Pois é isso que a enfermagem faz, ela cuida!
Mas não somos blindados.
Sentimos medo. Cansaço. Angústia. E ainda assim resistimos. Inclusive nas
fiscalizações de agentes políticos que, muitas vezes, em vez de orientar a população,
intimidam os profissionais de saúde. Não digo as fiscalizações legítimas, mas as de
cunho político, as caça likes, as que usam a população para atacar os profissionais de
saúde para culpabilizar as deficiências do sistema público, que muitas vezes tem mais
a ver com a própria atuação política de omissão frente às gestões do que com quem
está ali trabalhando, enfrentando todos os desafios presentes.
Isso tudo tem adoecido a enfermagem. E o pior: em silêncio.
E mesmo quando decidimos denunciar… as barreiras são muitas.
Quantas vezes um profissional deixou de registrar a agressão pela
responsabilidade de não deixar o plantão?
Quantas vezes, exausto emocional e fisicamente após o ocorrido, não teve
forças para ir até a delegacia?
Quantas vezes não teve transporte, não teve apoio, ou teve medo?
Por isso, quero deixar um recado à minha categoria — especialmente a vocês
que estão aqui hoje, nos acompanhando nesta audiência pública:
Eu entendo a resistência em denunciar.
Ela é humana. Ela é compreensível. Mas ela precisa ser superada.
Registrar o boletim de ocorrência não é só um ato pessoal — é um ato coletivo
de proteção.
É dar visibilidade ao problema.
É responsabilizar o agressor.
É criar dados que sustentem mudanças institucionais.
É proteger outros profissionais que, amanhã, podem estar na mesma situação.
E é por isso também que faço hoje uma sugestão concreta a esta Casa
Legislativa:
Que os endereços residenciais dos profissionais de saúde não constem nos
boletins de ocorrência quando a agressão estiver relacionada ao exercício
profissional. Que conste, se for o caso, o endereço da secretaria de saúde, ou no
máximo, da sua unidade de saúde.
Pois isso tem gerado medo e sensação de vulnerabilidade, pois os agressores,
além de já saberem onde trabalhamos, também poderão descobrir onde moramos.
É inadmissível que quem salva vidas precise temer pela própria.
Deputados, a enfermagem está aqui. Está unida. Está firme.
Mas precisa de respaldo. Precisa de proteção. Precisa de políticas públicas que
reconheçam o tamanho da nossa entrega — e que nos garantam o mínimo:
segurança para cuidar, nossa mais linda função!
Violência contra a enfermagem não é um problema individual — é um problema
de Estado.
E é com o Estado, com vocês deputados, que precisamos contar para enfrentálo.
Muito obrigada.

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