A Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) enfrenta uma das maiores crises de sua história recente, marcada por prejuízos bilionários e dificuldades operacionais que levaram à renúncia do presidente da estatal, Fabiano Silva dos Santos. O executivo, que havia assumido o cargo em janeiro de 2023, apresentou sua carta de demissão ao Palácio do Planalto na sexta-feira, 4 de julho de 2025, segundo informações divulgadas por veículos como Metrópoles e CNN Brasil. Sua saída, que ainda aguarda uma conversa com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na próxima semana, ocorre em meio a uma profunda crise financeira e forte pressão política.
Prejuízos recordes e desafios estruturais Em 2024, os Correios tiveram um prejuízo de R$ 2,6 bilhões, quatro vezes superior aos R$ 633 milhões registrados em 2023. No primeiro trimestre de 2025, a situação se agravou ainda mais, com perdas adicionais de R$ 1,6 bilhão. Entre os fatores que explicam esses resultados negativos estão a queda nas receitas do segmento postal tradicional, como cartas e boletos, e o aumento persistente das despesas operacionais. A gestão de Fabiano Silva foi criticada por demorar a implementar medidas eficazes para conter essas perdas.
Paralelamente, a estatal sofre com a forte concorrência de operadores privados como Mercado Livre, Amazon e Magazine Luiza, que estabeleceram suas próprias estruturas de entrega, reduzindo significativamente a demanda pelos serviços dos Correios, como o Sedex. Além disso, a criação do programa “Remessa Conforme”, apelidado de “taxa das blusinhas”, resultou numa perda estimada em R$ 2,2 bilhões devido à redução das encomendas internacionais.
Medidas tardias e tensões políticas Para combater a crise, os Correios anunciaram em maio de 2025 um plano de redução de despesas, com expectativa de economia de R$ 1,5 bilhão. As iniciativas incluem venda de imóveis, um Programa de Desligamento Voluntário (PDV), redução da jornada de trabalho e suspensão temporária de férias. Contudo, analistas consideram que essas ações chegaram tardiamente e têm eficácia limitada frente à dimensão da crise.
Além dos problemas financeiros, gastos considerados polêmicos também contribuíram para a pressão sobre Fabiano Silva. Em 2024, foram gastos R$ 34 milhões em patrocínios, incluindo eventos como o festival Lollapalooza e uma turnê de Gilberto Gil. Esses investimentos são alvo de uma investigação informal no Senado, chamada de “mini CPI”.
A renúncia também envolve uma disputa política, especialmente com o partido União Brasil, que controla o Ministério das Comunicações e deseja assumir a presidência da ECT. O presidente do Senado, Davi Alcolumbre, e o ministro da Casa Civil, Rui Costa, pressionavam pela substituição de Silva, vendo nisso uma oportunidade para consolidar a influência partidária dentro da estatal.
Reações e expectativas futuras A crise tem mobilizado sindicatos dos trabalhadores dos Correios. A Findect solicitou ao governo federal a devolução de R$ 3 bilhões em dividendos pagos entre 2011 e 2013, argumentando que esses recursos poderiam ajudar na modernização da empresa. Já a Fentect criou um Comitê em Defesa dos Correios, com apoio parlamentar, buscando alternativas para enfrentar a situação.
Nas redes sociais, a renúncia gerou opiniões divergentes, com críticas à gestão atual e dúvidas sobre a viabilidade de novas iniciativas como o marketplace “Mais Correios”.
Perspectivas incertas A saída do presidente dos Correios é um momento crucial para a empresa, que precisa recuperar a sustentabilidade financeira e ao mesmo tempo manter sua função estratégica, especialmente em áreas remotas do país. Desde 2023, foram anunciados investimentos de R$ 1,6 bilhão em tecnologia, infraestrutura e renovação da frota, além de planos para expansão na área de logística em saúde e a criação de um banco digital.
O governo Lula mantém sua posição contrária à privatização dos Correios, retirada do Plano Nacional de Desestatização em 2023, mas a possibilidade de auxílio financeiro do Tesouro Nacional para evitar falência preocupa analistas e contribuintes. A escolha do novo presidente, prevista para os próximos meses, será determinante para definir o futuro da estatal, equilibrar suas contas e promover uma modernização eficiente.
Participe da nossa comunidade!
Clique aqui para entrar no grupo do WhatsApp