LONDRES – A recente descoberta de um gigantesco campo de petróleo pela BP, na costa do Brasil, reacendeu o entusiasmo dos investidores, lembrando a era de exploração agressiva de duas décadas atrás, quando as empresas buscavam recursos diante do medo de que o mundo estivesse ficando sem petróleo.
A descoberta sinaliza que os temores de que as grandes petroleiras pudessem ficar com ativos encalhados, em meio à transição energética, podem estar diminuindo.
Se for totalmente desenvolvido, o gigantesco campo pode transformar a BP, uma empresa de US$ 93 bilhões que nos últimos anos enfrentou turbulências na liderança, falta de rumo estratégico, especulações sobre uma possível venda e pressões de investidores ativistas.
A BP ainda precisará de meses para avaliar totalmente o Bumerangue, mas os resultados iniciais apontaram para uma coluna de hidrocarbonetos de 500 metros em um reservatório de pré-sal de alta qualidade que pode se estender por mais de 300 quilômetros quadrados.
Claudio Steuer, do Instituto de Estudos Energéticos de Oxford, estima que o campo pode conter entre 2 e 2,5 bilhões de barris recuperáveis, com base em campos vizinhos. Isso poderia se traduzir em um enorme desenvolvimento offshore, capaz de produzir cerca de 400 mil barris por dia durante décadas. Como detém 100% do bloco, a BP poderá colher ganhos extraordinários com essa descoberta.
O anúncio mostra que a BP está redirecionando recursos e talentos para a área de exploração, após anos de redução nas equipes. A empresa pretende aumentar em 20% os gastos anuais com exploração e produção, chegando a US$ 10 bilhões até 2027, e manter a produção estável entre 2,3 e 2,5 milhões de barris por dia até 2030.
A estratégia remete ao início dos anos 2000 – e a BP não está sozinha.
Adeus ao fantasma dos ativos encalhados?
Durante duas décadas, o tamanho das reservas foi o principal indicador para os investidores no setor de energia. Para crescer, as “Big Oil” aumentaram os gastos em exploração, que subiram de US$ 5 bilhões anuais entre 1995 e 2005 para mais de US$ 35 bilhões em 2013, segundo a consultoria Thunder Said Energy.
Mas essa corrida desacelerou em meados da década de 2010, quando os custos subiram demais, os preços do petróleo caíram e os retornos aos acionistas encolheram.
O apetite por exploração diminuiu ainda mais após o Acordo de Paris, em 2015, e com previsões de queda na demanda de petróleo na década seguinte. Cresceu o temor de que reservas se transformassem em ativos encalhados, que jamais seriam explorados e perderiam valor.
Assim, o investimento em exploração de gigantes como ExxonMobil, Chevron, Shell, BP e TotalEnergies caiu para menos de US$ 10 bilhões anuais nos últimos anos, e o tamanho das reservas perdeu importância.
Hoje, as petroleiras ocidentais possuem reservas equivalentes a 7 a 13 anos de produção atual, contra 12 a 17 anos há uma década. No fim de 2024, a BP tinha 6,25 bilhões de barris equivalentes, 8% a menos que no ano anterior e suficientes para apenas 7,25 anos de produção – bem abaixo dos 15 anos de dez anos atrás.
Agora, o cenário parece mudar, como mostra o entusiasmo em torno do Bumerangue.
O sentimento dos investidores está se transformando, e anos de baixo investimento forçam as empresas a repor reservas apenas para manter a produção.
Exploração volta ao radar
As companhias estão destinando mais recursos à exploração, uma atividade de alto risco e alta recompensa. Em agosto, o CEO da Chevron, Mike Wirth, disse estar “insatisfeito” com os resultados recentes e, por isso, a empresa vai aumentar os investimentos em novas buscas, tanto em áreas já produtoras como em bacias de fronteira, incluindo Suriname, Namíbia e Egito.
“Há uma retomada de atividade, começando pelos leilões de blocos. Esse é o principal indicador da exploração”, avaliou Per Magnus Nysveen, analista-chefe da Rystad Energy.
A Rystad estima que o mundo ainda tenha 1,5 trilhão de barris de petróleo recuperável, incluindo reservas ainda não descobertas, o que equivale a todo o consumo global de 1900 a 2024. Mas extrair esses recursos exigirá investimentos gigantescos.
A incerteza sobre a demanda futura também pesa. A Agência Internacional de Energia prevê estabilidade a partir de 2030, enquanto a Opep espera crescimento até 2050. Muito dependerá do ritmo da transição energética, especialmente em mercados como a China.
Por outro lado, a busca por segurança energética após a invasão da Ucrânia pela Rússia em 2022 e o aumento da demanda puxada pelo avanço da inteligência artificial podem sustentar o consumo.
O debate sobre esses prazos deve continuar, mas uma coisa é certa: para a BP, a descoberta do Bumerangue chega no momento ideal.
Por Ron Bouss
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